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expografia

Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro e São Paulo

2018/2019

curadoria de Paolo Falcone

por Paolo Falcone

 

Letizia Battaglia começou a fotografar em 1971, em Milão, enquanto escrevia como freelance para vários veículos, entre eles o escandaloso Le Ore e o intelectualíssimo ABC. Também colaborou com o periódico L’Ora di Palermo. Em 1974, L’Ora propôs que ela retornasse a Palermo, onde havia nascido e vivido na adolescência, tornando-se responsável pela área de fotografia.

 

Na Palermo daqueles anos um pacto entre política e máfia controlava a cidade. Foram os anos do chamado “Saque de Palermo”, que viu a cidade ser desfigurada por um sistema político empresarial ligado à Cosa Nostra. L’Ora era o único a denunciar o sistema degradado e corrupto. De 1978 a 1992, se desencadeou um dos piores e mais sanguinários conflitos do pós-guerra pelo controle do território, que teve seu ápice na guerra da máfia de 1981 a 1983 e que semeou centenas de cadáveres por ano. Apenas no início dos anos 1980 Palermo viu nascer a força tarefa antimáfia, criada pelo juiz Rocco Chinnici, logo depois assassinado. E só a partir de 1984, com a colaboração de Tommaso Buscetta, foi possível desvendar aquele mecanismo complexo.

 

Letizia também teve um percurso na política militante. Integrou o Partido Verde, movimento ambientalista que tentava frear a selvagem especulação imobiliária em Palermo. Em 1986 entrou no conselho municipal da cidade.

 

O ano de 1992 foi dramático na história da cidade. Em 12 de março, Salvo Lima político ligado à máfia, foi assassinado. A Cosa Nostra se sentiu abandonada. Em 23 de maio uma carga de explosivos matou o juiz Giovanni Falcone, chefe das operações antimáfia, sua mulher, Francesca Morvillo, e três homens da escolta. Em 19 de julho um Fiat 126 carregado de dinamite matou o juiz Paolo Borsellino, outra figura central nas investigações, e mais cinco agentes da sua escolta.

 

Em resposta aos massacres mafiosos, Letizia, então deputada regional, criou as Edizioni della Battaglia, editora independente com objetivo de dar voz à luta e ao respeito pelos direitos civis em sua terra e ao redor do mundo. Fundou também a revista Mezzocielo, periódico criado exclusivamente por mulheres. Em dezembro de 2017, inaugurou outro importante projeto, o Centro Internazionale di Fotografia ai Cantieri Culturali alta Zita, que levou a Palermo exposições de grandes fotógrafos e jovens talentos.

 

Letizia fotografa com uma grande-angular. Para poder narrar com as imagens, é preciso estar exatamente onde a cena ocorre. Está sempre na linha de frente, e estreito contato com o elemento ou o assunto a ser representado. Além de documentar a guerra da máfia, retratou muitas mulheres e crianças nos bairros, arrabaldes e ruelas de uma cidade que ainda conservava ruínas na Segunda Guerra Mundial. Imagens fortes e poéticas, que descrevem com amor uma trágica condição social.

As exposições no Brasil derivam da grande mostra realizada no ZAC (Zisa Zona Arte Contemporanee), em Palermo. A mostra foi concebida, desde o início, rompendo os esquemas e ignorando as cronologias e os temas da vasta produção da fotógrafa, com o objetivo de compor uma obra polifônica, uma floresta fotográfica. Um corpus ainda a ser decodificado e recomposto, mas no qual foram postas importantes balizas com a finalidade de escrever e definir de modo orgânico um trabalho de mais de 40 anos.

 

 

ficha técnica

 
projeto expográfico: Helena Cavalheiro e Juliana Ziebell [assistente]

curadoria: Paolo Falcone

projeto gráfico: Luciana Facchini

produção: equipe IMS

fotos: Renado Parada e Tuca Vieira [exposição], Helena Cavalheiro [montagem]

área de intervenção: 215m² [Rio de Janeiro] e 355m² [São Paulo]

conclusão: outubro de 2018 [Rio de Janeiro] e abril de 2019 [São Paulo]

helena cavalheiro . arte e arquitetura, fronteiras fluidas . ©2024

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